"Um dia o coração explodiu-me nas mãos como uma bomba"
quinta-feira, setembro 27, 2007
quarta-feira, setembro 26, 2007
Fragmento XI
Entrei no circo
Sou a prima da bailarina
O pai dela é domador.
Eu cuspo fogo e faço malabarismos.
O público agradece.
A cada um o seu ofício.
Feliz sou com a minha arte
- quando os deuses me sorriem.
Sou a prima da bailarina
O pai dela é domador.
Eu cuspo fogo e faço malabarismos.
O público agradece.
A cada um o seu ofício.
Feliz sou com a minha arte
- quando os deuses me sorriem.
domingo, setembro 23, 2007
Declinações do poder
Eu sei Eu consinto Eu não posso
Tu sabes Tu pactuas Tu podes
Ele sabe Ela revolta-se Ele não pode
Nós sabemos Nós consentimos Nós não podemos
Vós sabeis Vós pactuais Vós podeis
Eles e elas sabem Elas revoltam-se Eles não podem
Tu sabes Tu pactuas Tu podes
Ele sabe Ela revolta-se Ele não pode
Nós sabemos Nós consentimos Nós não podemos
Vós sabeis Vós pactuais Vós podeis
Eles e elas sabem Elas revoltam-se Eles não podem
terça-feira, setembro 18, 2007
Para o Actor
Ensimesmado no teu castelo alcandorado,
símbolo encarnado
de um deus - mistério que nunca vi,
através de ti toco o infinito,
o desejo nunca corrompido,
sem objecto, metafísico,
sexo puro.
Algures vago, vegeto,
entre bruma e nevoeiro
navego,
vou ao teu encontro.
Nunca te despiste.
Através de uma cortina
visiono as tuas sombras
e se ao morrer arranco
os véus que te cobriam
não me lamento se descobrir
que uma vez mais fui enganada.
E que por detrás e por diante
e pelos lados das sombras - projectos
que criaste
não havia nada, nem sombra de nada,
nada, nada,
apenas um corpo abjecto e perecível.
símbolo encarnado
de um deus - mistério que nunca vi,
através de ti toco o infinito,
o desejo nunca corrompido,
sem objecto, metafísico,
sexo puro.
Algures vago, vegeto,
entre bruma e nevoeiro
navego,
vou ao teu encontro.
Nunca te despiste.
Através de uma cortina
visiono as tuas sombras
e se ao morrer arranco
os véus que te cobriam
não me lamento se descobrir
que uma vez mais fui enganada.
E que por detrás e por diante
e pelos lados das sombras - projectos
que criaste
não havia nada, nem sombra de nada,
nada, nada,
apenas um corpo abjecto e perecível.
segunda-feira, setembro 17, 2007
sexta-feira, setembro 14, 2007
Escadaria Fugitiva
A menina voltou
A menina está triste
Dorme enrolada nos seus cobertores
O regresso é imprevisto.
O olho da serpente
enlaçado no pescoço.
Abandonada
a casa verde
dormita
escondida entre os pinhais.
Ela e o caminho
caíram por uma ribanceira.
O corpo jaz
despojado pela areia.
Afogado.
Sonâmbula, a alma vagueia
O mar, sempre o mar
em ondas
rebenta nos rochedos.
A menina está triste
Dorme enrolada nos seus cobertores
O regresso é imprevisto.
O olho da serpente
enlaçado no pescoço.
Abandonada
a casa verde
dormita
escondida entre os pinhais.
Ela e o caminho
caíram por uma ribanceira.
O corpo jaz
despojado pela areia.
Afogado.
Sonâmbula, a alma vagueia
O mar, sempre o mar
em ondas
rebenta nos rochedos.
quarta-feira, setembro 12, 2007
Os burgueses
A pequeno-burguesa saiu de sua casa
enfarpelada nas suas vestes de domingo,
vestido de seda, pérolas a condizer com o vestido,
artificiais e brancas.
Vai muito bonita, rosadita e fresca.
É loira, tem olhos verdes
e se eu pudesse roubava-lhe um beijo,
a mão esquerda entre os seios,
a direita escorregando pela anca
e outras mãos que eu não sei se tenho
para tocar os segredos escondidos
por debaixo do vestido
que me encanta e desconcentra
dos assuntos graves e sisudos,
coisas entre nós, homens,
política futebolística,
a relação entre o coração e a lua,
quantos centímetros mede o peito da Madonna,
a velha guerra da Bósnia-Hergovina,
as exéquias do cineasta preferido,
e mais ainda, mais ainda, mais ainda...
os honorários, os horários, as contas,
as dívidas, os créditos, os bancos,
a respeitabilidade que me é devida:
sou um burguês honesto, benevolente e sério.
enfarpelada nas suas vestes de domingo,
vestido de seda, pérolas a condizer com o vestido,
artificiais e brancas.
Vai muito bonita, rosadita e fresca.
É loira, tem olhos verdes
e se eu pudesse roubava-lhe um beijo,
a mão esquerda entre os seios,
a direita escorregando pela anca
e outras mãos que eu não sei se tenho
para tocar os segredos escondidos
por debaixo do vestido
que me encanta e desconcentra
dos assuntos graves e sisudos,
coisas entre nós, homens,
política futebolística,
a relação entre o coração e a lua,
quantos centímetros mede o peito da Madonna,
a velha guerra da Bósnia-Hergovina,
as exéquias do cineasta preferido,
e mais ainda, mais ainda, mais ainda...
os honorários, os horários, as contas,
as dívidas, os créditos, os bancos,
a respeitabilidade que me é devida:
sou um burguês honesto, benevolente e sério.
terça-feira, setembro 11, 2007
A Sombra
Houve um tempo em que fui menina e saía de casa com o meu vestido branco na esperança de que me visses passar. Arrancava uma flor, miosótis quase sempre, no jardim municipal e trazia-a entre os dentes na esperança de que me visses passar.
Enfeitei-me com um chapéu preto e até lhe pus um laço cor-de-rosa porque sabia que gostavas de rosas. E brincava com as lágrimas nos meus olhos porque sabia que gostavas de me ver chorar. Nunca me senti verdadeiramente triste. Amava-te demasiado e só pensar que existias bastava para eu ser feliz.
Depois cresci e aprendi que a justiça existia e tu não eras justo. Eras um homem do cerimonial arcaico, do triângulo equilátero. Eu era o teu corpo bastardo e apenas querias me dominar. Por isso incendiei a tua casa, pilhei os teus haveres e parti. Para nunca mais voltar.
Enfeitei-me com um chapéu preto e até lhe pus um laço cor-de-rosa porque sabia que gostavas de rosas. E brincava com as lágrimas nos meus olhos porque sabia que gostavas de me ver chorar. Nunca me senti verdadeiramente triste. Amava-te demasiado e só pensar que existias bastava para eu ser feliz.
Depois cresci e aprendi que a justiça existia e tu não eras justo. Eras um homem do cerimonial arcaico, do triângulo equilátero. Eu era o teu corpo bastardo e apenas querias me dominar. Por isso incendiei a tua casa, pilhei os teus haveres e parti. Para nunca mais voltar.
domingo, setembro 09, 2007
Confissões de um artista menor
Por volta do ano 12 da nova era, descobri, pela força das circunstâncias, que o trabalho assalariado era fonte contínua de infortúnios. No dia 7 de Maio desse ano concebi o projecto glorioso de escapar a esse destino vulgar e decidi que seria artista. Comecei então com energia, zelo e alguma preguiça a tomar as providências para a minha iniciação. A primeira coisa que fiz foi consultar o boletim metereológico. Soube então que ia chover. Munida de um estetoscópio, adereço indispensável, fui ter com a população indígena decidida a descrever com pincéis e tintas a relação da chuva com as pulsações cardíacas. Efectivamente, as pessoas tinham um ar espapaçado e parecia que andavam com as baterias descarregadas. Solicitamente, convencia-as que o bicarbonato de sódio com duas gotas de cianeto era o melhor que havia para a indigestão, fenómeno a que a chuva predispunha em naturezas com electricidade negativa. Não me ligaram nenhuma. Fui para a igreja pregar: " Eu sou artista e tenho alma de poeta e Fernando Pessoa, ele mesmo, único nas suas diversas variações e fugas, veio do inferno para me iniciar!" Não me ouviram os peixes quanto mais as humanas criaturas. Desfiz o engano. Meti os pés pelas mãos. Foi tudo mentira. Entrei na fábrica. Faço parte da engrenagem. Pontapique. Pontapique. Pontapique. Pá. Pontapique. Pontapique. Pontapique. Pá! Quando é que esta merda vai acabar? Etecetera... Etecetera e tal... Etecetera...
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