Tuesday, September 11, 2007

A Sombra

Houve um tempo em que fui menina e saía de casa com o meu vestido branco na esperança de que me visses passar. Arrancava uma flor, miosótis quase sempre, no jardim municipal e trazia-a entre os dentes na esperança de que me visses passar.
Enfeitei-me com um chapéu preto e até lhe pus um laço cor-de-rosa porque sabia que gostavas de rosas. E brincava com as lágrimas nos meus olhos porque sabia que gostavas de me ver chorar. Nunca me senti verdadeiramente triste. Amava-te demasiado e só pensar que existias bastava para eu ser feliz.
Depois cresci e aprendi que a justiça existia e tu não eras justo. Eras um homem do cerimonial arcaico, do triângulo equilátero. Eu era o teu corpo bastardo e apenas querias me dominar. Por isso incendiei a tua casa, pilhei os teus haveres e parti. Para nunca mais voltar.

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