Sunday, March 30, 2008

Colecta Literária

XXXI. - Parece-me que alguém que olhe do alto a vida humana, como o Júpiter das fábulas e dos poetas o faz por vezes, e observe a quantidade de males que se abatem sobre o género humano, o seu nascimento humilhante, a educação difícil, os perigos que rodeiam a infância, os duros trabalhos impostos à juventude, a velhice penosa e, depois de inúmeras doenças e males, de incómodos que de todos os lados o perseguem e envenenam o dia-a-dia, por fim a dura necessidade da morte.
Não falemos já do mal que o homem faz ao homem: a ruína, o cárcere, a desonra, a tortura, as ciladas, as traições. Enumerar tudo isto, os ultrajes, os pleitos, as fraudes, seria como contar os grãos de areia à beira-mar.
Erasmo, Elogio da Loucura

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