Thursday, December 06, 2007

Carta a um camarada

Prezado colega,

Ao longo destes últimos anos, quiçá influenciado pelas contemporâneas metamorfoses epistemológicas que insistem em vender como novo aquilo que é antigo, valha-me Santo Péricles e a Liga de Delos, venho, progressivamente,aproximando-me de posicionamentos diferentes dos que me eram habituais, vencendo as dificuldades inerentes à minha natural modéstia e propensão para a visão paralítica das realidades sociais e humanas, atitude comum naqueles que, como eu, sem princípios, metodológicos, naturalmente, se iniciaram no estudo da "Comédie Humaine".
Há já algumas lustrosas décadas que reúno material para escrever um chorudo estudo sobre a função dos conceitos abrangentes dentro da sociedade ocidental contemporânea. Apercebeu-se com certeza que me refiro concretamente ao Complexo Imperial Ocidental (CIO). Infelizmente, outros afazeres científicos têm-me desviado e impedido de concretizar este antigo anseio. Não me coíbo de expressamente citar a minha tese de doutoramento, magnamente aprovada pela Universidade Africana de Moto Ledo, sobre as causas, consequências, objectivos e meios, não do terramoto que destruiu Lisboa em 1755, por todos sobejamente conhecido, mas sim do maremoto que lhe foi concomitante, evitando, embora, criar situações de paralelismo e convergência. Escrevi sobre o assunto alguns milhares de páginas, tanto quanto possível e sempre que a complexidade do tema assim o exigiu numa linguagem clara e transparente, ressalvando, embora, num ou noutro caso, a natural fragilidade inerente a algumas das palavras. Purga. Cruz. Credo. Canhoto.
Regressando, sem nunca lá ter estado, ao motivo que me levou a escrever-lhe, gostaria que me desse a sua opinião sobre o plano de salvação nacional que gizei para salvar a falida economia portuguesa do caos turbilhonante que a invade e que, seguidamente, passo a expor:
A saber:
Quantos portugueses deveríamos exportar para a lua, no prazo máximo de dez anos e a que ritmo para que Portugal se transforme no maior campo de golf até hoje arquitectado neste planeta, onde os nossos amigos europeus e americanos, classe média superior, a nata da civilização, com quem temos com esforço criado laços, possam vir com prazer despender os seus ecus e dólares? A felicidade dos portugueses, meta para qual trabalho, assim o exige. Somos muitos. Somos demasiados. Estragamos a paisagem.

Seu amigo, sem desfalecimento,
Leonardo Ventura

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