Monday, February 18, 2008

Fragmento XLVII

Querida, hoje não fui à tua casa. Estou no café e limito-me a olhar pela janela da vida sem perceber o que pode ter acontecido. Quero fugir. Quero partir e não regressar nunca mais. Mas tenho os pés pesados e alma atada. Exiges constantemente a minha presença como se quisesses me controlar e algumas vezes sou eu próprio que me quero colar à tua sombra como se longe de ti a vida não fizesse sentido. Gostaríamos ambos que nos pudéssemos amar sem que isso nos alterasse mas não é possível e dói. Dói muito não é verdade? Quando penso em ti, nas tuas pernas inchadas, nas tuas mãos maltratadas, nos teus olhos míopes enquadrados pelos óculos fora de moda, tenho vergonha de te amar.
Desprezo-te tanto, tanto... Odeio-te compreendes! E não compreendo os meus acessos repentinos de ternura. E quanto mais tento soltar as amarras mais me sinto preso a ti e odeio esta prisão. Liberta-me se és capaz. Deixa-me partir!

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