Monday, February 04, 2008

Fragmento XLIII

É difícil falar. Ando às voltas com a caneta na mão e sinto uma enorme dificuldade. Como se uma lavagem ao cérebro me estivesse a ser feita. E isso acontece sempre que determinados temas vêm à baila. Aos senhores do poder não agrada que eu pense. Tentam roubar-me a personalidade, identificar-me com um qualquer número numa série infindável, numa ordem bem definida. Retiram-me todas as oportunidades de manifestação. Condenam-me ao silêncio. És mulher e ainda por cima estúpida! A minha impotência humilha-me. Atrevo-me a reivindicar os meus direitos. Que pena dizem eles! Que gostariam que eu os servisse de borla e calada como uma escrava dos tempos antigos. Enquanto que eles os espertinhos, arrecadam fortunas em contas bancárias que se multiplicam mais rapidamente que os pães de Cristo!
Estou farta dos milagres económicos, da lotaria da banca, dos choques tecnológicos e quejandas tretas com que tentam justificar as suas manobras criminosas. Forçados a falar, disparatam a torto e a direito e poluem o ambiente. Ando intoxicada com estas mixórdias.
Por mais que me encharquem de todos os lados com as vantagens insuperáveis de possuir um carro sport do último modelo xx ou a superioridade magnífica dos pensinhos higiénicos marca xy - os cabrões mal me deixam respirar, quanto mais pensar! - misturados com a sopa do jantar e os pobrezinhos do Dafur - que grande furo jornalístico! - Sim, eu sei estou muito bem de vida em comparação com aqueles desgraçadinhos! Obrigado, Grande Chefe! Devemos-te tudo Grande Pai!
Toma cuidado boss... Eu ainda não desisti... Tu ainda não passaste. E o carnaval continua...

2 comments:

Ricardo António Alves said...

É mandá-los pastar, Estrelícia. E se tivermos o carro sport xx ou os pensinhos xy, não nos penalizemos por isso -- sobretudo se os mandámos pastar e conseguimos ficar ilesos e incólumes às suas manigâncias. É difícil, eu sei, mas não impossível.

estrelicia esse said...

Há muito que não faço outra coisa. Ignoro a torto e a direito e ao centro, se é que essa coisa existe. Consigo fazer de conta tão bem que acho que ficcionar se tornou para mim uma estratégia de sobrevivência.