Monday, November 12, 2007

Carta de Ofélia Baby ao seu amado

Querido bozeguinho,

Nunca te percebi. O inglês não é o meu forte. Se falasses russo eu batia com as portas e punha-me à janela.
Sou surda, muda, mas não sou cega. Deus te pague. Eu não tenho cheta. Tout quand même je t'adore.
Um piano não é uma casa. Uma casa não é um bandolim. Quando escovo os dentes penso: onde foi que pus o pente?
Tenho tudo fechado. Sete chaves e um cadeado. E se te escrevo sou tua amiga. Um dia não são dias e amanhã vou à florista.
Recado: não percas tempo comigo. É impossível venceres ou mesmo convenceres. Recebe assim (não sei se devo alguma coisa) o tributo da minha ternura que é imortal e eterna, mas que de vez em quando, em dias de aniversário (a Carlita faz amanhã anos), cede à trivialidade de se manifestar nestas moedas de vil metal que se chamam palavras.
Vê se te lembras! De noite todos os gatos são pardos. Miosótis são as flores que prefiro. Ou às vezes tulipas amarelas.
Nunca esqueças! Sou filha do dia, irmã do vento. Malfadado é o dia! tempestuosos correm os ventos.
Por favor não me leves a sério. Se eu um dia me levar a sério, acabo morta: de susto, medo ou pasmaceira.
Bozeguinho, é verdade que o sol nasce, morre, levanta-se e põe-se? Todos os dias? E eu bozeguinho e eu quantos dias?
Perdi os meus óculos de sol pela segunda vez. A demasiada claridade mete medo. Por isso escrevo. Tenho a mania da perseguição mas acontece que não percebo. O sinal será de mau agouro?

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