Friday, November 16, 2007

Idílio romântico

Já se passou tanto tempo. Lembras-te? Eu era uma miúda e usava tranças. Dormia todas as noites contigo. Sentia-me feliz. Depois perdi-te, engolida pela voragem do tempo. Muitas vezes acordei de manhã, chorando. Sonhava que vinhas ter comigo e eu não te reconhecia. Eras um soldado barbudo e feio. Um velho resistente de guerras muito antigas como Che Guevara. Esqueci que o tempo tinha passado e não podias mais ser o principezinho louro guardado nas minhas recordações.Esta noite acordei banhada em suores frios, chamando por ti. Apetecia-me estar contigo amadurecendo, como outrora, no calor do teu peito. Soldadinho de chumbo, eu sou a tua bailarina. De noite adormeço buscando a tua presença no labirinto dos meus sonhos. De dia caminho cega e a vida rouba-me tudo. Nenhuma águia traz-me nas asas um pouco de luz. Hienas e chacais são os meus companheiros de estrada. Chamam-me doida. Habituei-me ao sofrimento mas estou quase morta. Fazes-me falta. Diz-me que não foi fingimento o teu beijo quando nos reencontramos em Veneza, por um acaso que não sei explicar, a nossa noite de núpcias, por detrás das cortinas vermelhas, em segredo, no palácio do Doge. Continuo no teu encalço e sei que em Espanha esperas por mim com um anel no dedo e veneno dentro desse anel. Para sempre tua.
rascunho

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