Saturday, March 22, 2008

Aimer à en mourir

Quando cheguei à tua casa tinha os pés ensanguentados e as asas partidas. Trataste de mim com carinho infinito. Quando te mordi ao me tocares, apenas porque doía, todo o meu corpo doía, não me rejeitaste. Fizeste-me sentar à tua mesa e ofereceste-me um banquete como se eu fosse uma princesa. Lentamente, despedaço a minha alma para te amar melhor. Ontem despi a minha couraça de silêncio. Esta noite arranquei um olho. Sinto-me feliz porque sei que me observas e que a tua pele se torna mais transparente e os teus olhos mais luminosos. Quando te aproximas afastas as nuvens de hipocrisia, a casa vendida aos mercadores. Enches o meu bornel de pedinte com pedras preciosas e fragâncias delicadas e a minha alma está repleta do desejo de beleza.
O meu coração era um cofre selado mas encontraste a chave e não consigo seguir viagem. Ouço o murmúrio do vento que me chama e incita para que parta, mas os meus pés criaram raízes à tua porta e com vertigens de volúpia e medo abandono-me nas tuas mãos e sinto que a felicidade habita no teu nome.

4 comments:

ana v. said...

Amar é isto, só isto. Comoveu-me este relato intimista e corajoso, mesmo que seja pura ficção. Muito gráfico, e muito poético também. Lindo.

estrelicia esse said...

Escrevi-o há muitos anos, como a maior parte do que edito no blogue. Aliás dizer que o escrevi não é inteiramente verdadeiro. Acho que foram as palavras que vieram ter comigo apenas porque precisavam que alguém as escrevesse.

ana v. said...

:)
Mas é quase sempre isso que acontece, quando se escreve...
Um beijinho

estrelicia esse said...

Pois é. Às vezes nós é que não temos tempo e paciência para lhes dar voz.