Wednesday, June 11, 2008

Colecta Literária" 8 (Ramalho Ortigão)

A sociedade portuguesa neste derradeiro quarteirão do século pode em rigor definir-se do seguinte modo: - Ajuntamento fortuito de quatro milhões de egoísmos explorando-se mutuamente e aborrecendo-se em comum.
Chamar pátria à porção de território em que uma tal agregação se encontra seria abusar repreensivelmente do direito que cada um tem de ser metafórico. (...) A pátria não o sítio em que nos coloca o acaso do nascimento, à mão direita ou à mão esquerda de um guarda da alfândega, mas sim o conjunto humano a que nos liga solidariamente a convicção de um pensamento e de um destino comum.
Já um sábio disse: Ubi veritas ibi patria. A pátria não é um solo, é a ideia.
Para que haja uma pátria portuguesa é preciso que exista uma ideia portuguesa, vínculo da nossa coesão intelectual e da coesão moral que constitui a nacionalidade de um povo.
Sabem dizer-nos se viram para aí esta ideia?...

Ramalho Ortigão, Farpas Escolhidas

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