Monday, June 16, 2008

Rodrigo Leão , Vita Brevis

O colectivo da Arcádia despede-se, fraternalmente, dos seus amigos e visitantes. A partir de hoje, entra em período de férias.

Colecta Literária* 10 (Proudhon)

Não criamos de modo nenhum uma Igreja, não formamos, falando com propriedade, um partido. Não trazemos ao mundo uma doutrina feita, à maneira dos reveladores, dos filósofos do absurdo e de alguns reformadores contemporâneos. Não somos os representantes de qualquer opinião, de qualquer interesse de corporação ou classe. O nosso princípio é velho como o mundo, vulgar como o povo: é a justiça, e nós tentamos fazer um comentário a seu respeito, que outros continuarão depois de nós e que jamais terá fim... (Justice, Position du probl. de la Justice.)
...A justiça, por melhor que a expliquem, permanece sempre um mistério, tal como a vida. (De la Pornocratie, notas e pensamentos.)
Se o misticismo é indestrutível, há um nome que o resume e que ninguém poderia apagar do pensamento dos homens: é o nome de Deus. Iria eu, estupidamente, fazer guerra a este conceito, de que não sou mestre? Que infantilidade! Antes de desonrar a nossa filosofia com esta ridícula negação..., como esqueceria eu que a revolução apresentou entre os seus dogmas, ao lado do progresso, a tolerância? (Justice, Sanction morale.)
Honremos em toda a fé religiosa, em toda a Igreja...honremos, mesmo no Deus que ela adora, a consciência humana. Conservemos a paz, a caridade, com as pessoas a quem esta fé é querida. É o nosso dever. (Justice, Posit. du Pr. de la Justice)
É notório que a humanidade crente vê coisas que a humanidade erudita não percebe; ela concebe, raciocina e julga de outro modo. Ela conclui de maneira diferente...Reside aí a grande cisão moderna.
Para tornar a sociedade possível, é preciso que uns - os incrédulos - façam um esforço de tolerância, enquanto que outros - os devotos - farão um esforço de caridade.
Devemos todos reconhecer, de boa fé, o que somos, e aceitar a nossa situação; respeitar-nos uns aos outros, e socorrer-nos mutuamente, como se fossemos simultaneamente, e a um mesmo grau, eruditos e crentes, devotos e justiceiros. (Jésus)
Proudhon, A Nova Sociedade, Ed. Rés.

Sunday, June 15, 2008

The Miracle of Our Lady Fatima

Em directo, Avelino de Almeida

Como o Sol bailou ao meio-dia em Fátima

(...) O Sol nasce, mas o cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens acastelam-se sobre Fátima. Nada, todavia, detém os que por todos os caminhos e servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. (...)
O ponto da charneca de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos de lugarejo de Aljustrel, é dominado numa enorme extensão pela estrada que corre para Leiria, e ao longo do qual se postaram os veículos que lá conduziram os peregrinos e mirones. (...)
A hora antiga é a que regula para esta multidão, que cálculos desapaixonados de pessoas cultas e de todo o ponto alheias às influências místicas computam em trinta ou quarenta mil criaturas... A manifestação miraculosa, o sinal visível anunciado está prestes a produzir-se - asseguram muitos romeiros... E assiste-se então a um espectáculo único e inacreditável para quem não foi testemunha dele. (...)

Avelino de Almeida, Ourém, 13 de Outubro, 1917.

O Milagre do Sol














Fátima, 1917

Fragmento XV

Será o milagre uma questão de visão ou interpretação?
Olhando para o mesmo fenómeno uns vêem o sol bailar, outras vêem o rosto da Virgem Maria e outros nada vêem de especial.
Cada criatura é um enigma da vida. A diferença entre o modo como se vê o mundo e o mundo em si é ténue para cada um e infinita entre todos. Um objecto, uma cena vista, claramente, por cada um não é um dado, plenamente, objectivo para todos. Tudo varia consoante a perspectiva.
Olhando para o sol em Fátima todos apreenderam as mesmas cores e formas mas, de facto, não viram a mesma coisa: alguém viu o sol bailar, outro, o rosto cintilando da Virgem Maria, muitos nada viram de especial senão o sol coruscando, momentaneamente, num dia de chuva.
Que vejo eu na imagem?
Vejo apenas uma multidão expectante e ansiosa, o sol sorrindo por entre as nuvens carregadas e sombrias. Um lampejo de beleza. Um momento de eternidade.

Leonardo Ventura, Memórias da I República Democrática

Saturday, June 14, 2008

Não feches as asas

Ainda que a noite chegue lenta,
apagando as canções;
ainda que os outros pássaros
tenham ido dormir
e estejas cansado;
ainda que o medo rumine na sombra
e se cubra o rosto do céu,
meu pássaro, escuta-me
e não feches as asas!

Não. Não são as sombras do bosque,
é o mar que se levanta
como negra serpente;
não é a dança do jasmim em flor,
mas o fio da espuma...

Onde está a verde praia cheia de sol?
Onde está o teu ninho?
Meu pássaro, escuta-me
e não feches as asas!

A noite solitária
atravessou-se no teu caminho
e a aurora dorme
atrás dos montes sombrios.
As estrelas sustêm a respiração
e contam as horas.
A lua débil
boia no céu profundo.
Meu pássaro, escuta-me
e não feches as asas!

Nem a espearnça nem o temor são teus!
Não há para ti palavras
nem gritos, nem lar, nem ninho.
Tens apenas duas asas
e o céu sem caminhos!

Meu pássaro, escuta-me
e não feches as asas!

Rabindrath Tagore, Coração da Primavera

Caetano Veloso, Fale com Ela

Fragmento XLVIII

Os incréus não acreditam na existência de Deus ou do Amor mas quase todos acreditam no Inferno e no Ódio e apontam com dedo acusador a miséria que existe à sua volta. Os crentes que acreditam que o paraíso possa existir, valentemente, descrevem o mundo ideal que os justos habitarão um dia. Segundo esta visão compensa ser justo. Pelo menos, na minha opinião, tem a vantagem de promover simultaneamente a justiça e a esperança. E onde há esperança o ar é mais leve e o fardo da existência menos pesado e fácil de transportar. Afinal tudo o que nos exigem é uma vida regrada, regida pelas normas do bem comum, do coração e da razão.
Deus também habita, oculto, no coração das gentes. Basta ouvi-la, à voz do coração.

Leonardo Ventura, Confissões Involuntárias

Friday, June 13, 2008

Pauliteiros de Miranda , 5 Outubro 2007

Fragmento CVVIIII

Andam por aí alguns extremistas de memória curta e língua comprida a pregarem que só ao Estado pertence o direito legítimo da violência. Não o entende assim o povo que quando sente que o esbofeteiam não oferece a outra face mas repõe um direito mais antigo que algumas circunstâncias justificam: "olho por olho, dente por dente".
Haja bom senso na Res Publica!

Leonardo Ventura, Memórias da I República Democrática

Thursday, June 12, 2008

Redentores da Pátria, 2008











Papsístrato, Redentores da Pátria, 06









Papsístrato, Redentores da Pátria, 05









Papsístrato, Redentores da Pátria, 04












Papsístrato, Redentores da Pátria, 03









Papsístrato, Redentores da Pátria, 02










Papsístrato, Redentores da Pátria, 01















Papsístrato, Redentores da Pátria,1

Colecta Literária* 9 (Eduardo Lourenço)

Depois do crepúsculo da geração estoicamente épica de 70 e acompanhando-a no seu adeus ao sonho de um país realmente transfigurado e senhor de si mesmo, a paisagem da cultura portuguesa é um deserto de ruínas, um Alcácer Quibir de heroísmo virtual. Talvez por isso, e no rasto de Oliveira Martins, que colocara D. Sebastião no centro da mitologia portuguesa, praticamente nenhum autor representativo do século XX deixou de reescrever por sua própria conta, para marcar ou ressuscitar nela, a história de um rei que, na vida e na morte, converte o empírico e exaltado destino de um povo de configuração imperial num destino messiânico, esperando do futuro uma grandeza que nunca mais será mais universal que a enterrada numa só tarde nas areias ardentes de Alcácer Quibir. De António Nobre a Pascoais, de António Patrício a José Régio, de António Sardinha a Fernando Pessoa e Torga, de Jorge de Sena a Almeida Faria, Natália Correia e Manuel Alegre, em pura transfiguração mítica ou desmistificação exorcística, em verso ou prosa, como Malheiro Dias ou António Sérgio, que mais do que ninguém desejou inscrevê-lo no passado como símbolo de aberração colectiva, a figura e o símbolo de Portugal atravessaram o século como se fossem ao mesmo tempo o seu fantasma insepulto e o seu anjo tutelar.

Eduardo Lourenço, Portugal como Destino: Dramaturgia cultural portuguesa.

Wednesday, June 11, 2008

Geração de 70











(Da esquerda para a direita: Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro)

Colecta Literária" 8 (Ramalho Ortigão)

A sociedade portuguesa neste derradeiro quarteirão do século pode em rigor definir-se do seguinte modo: - Ajuntamento fortuito de quatro milhões de egoísmos explorando-se mutuamente e aborrecendo-se em comum.
Chamar pátria à porção de território em que uma tal agregação se encontra seria abusar repreensivelmente do direito que cada um tem de ser metafórico. (...) A pátria não o sítio em que nos coloca o acaso do nascimento, à mão direita ou à mão esquerda de um guarda da alfândega, mas sim o conjunto humano a que nos liga solidariamente a convicção de um pensamento e de um destino comum.
Já um sábio disse: Ubi veritas ibi patria. A pátria não é um solo, é a ideia.
Para que haja uma pátria portuguesa é preciso que exista uma ideia portuguesa, vínculo da nossa coesão intelectual e da coesão moral que constitui a nacionalidade de um povo.
Sabem dizer-nos se viram para aí esta ideia?...

Ramalho Ortigão, Farpas Escolhidas

Fragmento CII

Mais vale uma geração de vencidos do que uma "raça" de eternamente adiados e bandidos.

Monday, June 09, 2008

Montra Lusitana 04


















Papsístrato

Montra Lusitana 03















Papsístrato

Montra Lusitana 02















Papsístrato

Montra Lusitana 01














Papsístrato

"Montra Lusitana" 1













Papsítrato

Sunday, June 08, 2008

Eça de Queiroz (1845-1900)

Essa é que é essa! * 1

"Procrastinare lusitanum est."
Eça de Queiroz, A Ilustre Casa de Ramires

Saturday, June 07, 2008

A Portuguesa

Lista de bens consumíveis, serviços e obrigações morais

Hoje preciso:
uma pastilha para dormir;
duas pastilhas para acordar;
três pastilhas para levantar;
quatro pastilhas para andar motivada;
cinco pastilhas para elevar o moral;
comprar um carro com bateria movida a ar;
implantar silicone no cérebro para aumentar
o volume de transacções das sinapses;
fazer as minhas apostas no Euromilhões;
procurar emprego;
amanhã acabo a lista. Ponto final.
Agora vai começar o jogo de futebol da Liga dos Papões.
Se Portugal ganhar vou depositar uma moedinha na
Caixa do altar de Nossa Senhora de Fátima!
A bem da nação!

Divisa Nacional: Deixa para amanhã o que devias ter feito ontem.

Friday, June 06, 2008

Miguel Torga, "Bucólica"

Miguel Torga

Colecta Literária* 7 (Miguel Torga)

Em tardes assim como as de hoje, cansado de esperar não sei por que milagre, desanimado diante do mapa do mundo que da parede me desafia desde a meninice, começo a pensar no Senhor Ventura. Na sua evocação mitigo durante algumas horas a dor que vai dando cabo de mim. Não me resigno à ideia de ter vindo à luz neste tempo e numa terra durante séculos inquieta de descobrir e saber, e depois tragicamente adormecida para tudo o que não seja olhar-se e resignar-se. Parece-me um castigo imerecido do destino e da história. Mas, como sou homem de impossíveis, salvo-me como posso. Encho-me da lembrança mágica do Senhor Ventura, que nenhuma razão impediu de correr as sete partidas que chamam em vão por cada um de nós. Na sua figura ponho a realidade do que sou e a saudade do que podia ser. Entrelaço no desenho do seu nome quanto a imaginação me pede de distância e de perigo. Vivo nele. E, enquanto dura a memória dos seus passos, sinto-me tão verdadeiro que quase sou feliz.
Miguel Torga, O Senhor Ventura

Fragmento CXII

Não sei se é o passado que me impele ou se é o futuro que avança para mim. Sinto-me às vezes encurralado. Que faço? O mesmo que fiz ontem. Que farei? O mesmo que faço hoje. O que quero? Não quero saber. O que me acontecerá? Não sei. Nada, talvez!

Leonardo Ventura, Confissões Involuntárias

Thursday, June 05, 2008

Luís Cília, "Canção Final, Canção de Sempre" (1966)

Manuel Alegre

As Naus de Verde Pinho

Sempre que em teu pensamento
o verde pinho florir
abre os teus sonhos ao vento
porque é tempo de partir.

E sempre que mais adiante
não houver porto de abrigo
tens o astrolábio e o quadrante
passarás além do perigo.

Lá onde a noite apresenta
forma e corpo de diabo
vencerás mar e tormenta
passarás além do Cabo.

Verás então o caminho
do outro lado de aqui
e uma nau de verde pinho
que te leva além de ti.

Manuel Alegre, As Naus de Verde Pinho, Viagem de Bartolomeu Dias contada à minha filha Joana (excerto).

Wednesday, June 04, 2008

Terezinha de Jesus

Retratos de Menina















Arquivo: Caixa de Pandora

Monday, June 02, 2008

Burn! Rome! Burn!

BBC Ancient Rome The Rise and Fall of An Empire

Juvenal (fins séc. I - princípios séc. II)






As pessoas comuns, em vez de cuidarem da sua liberdade, estão apenas interessadas em "pão e circo".

"Panem et Circenses"

Durante 120 minutos, o Coliseu assistiu a uma festa de emoção e cor. A plebe apoiou com entusiasmo e berros, os seus favoritos e, na arena, os adversários lutaram encarniçadamente pela vitória.
Os vencedores, escravos capturados na Etiópia, comprados por Crasso, ao senador Graco, e submetidos durante meses a um rigoroso treino físico, foram aclamados pela multidão em delírio. O imperador, emocionado, agitou o polegar para cima, em sinal de favor.
Recebidos no Senado foram premiados com um lauto jantar. Não faltaram o vinho, a música, os discursos e, também, as declarações comovidas e sinceras aos escribas de serviço. Viva Roma! Viva o imperador!
A multidão divertiu-se a valer com o espectáculo e eu também. Pena é que tivesse a barriga a dar horas. Desta vez, teria preferido mais pão e menos circo!